*As fricções entre a UE e os Estados Unidos aumentaram ao longo de 2025 e persistiram até o final do ano.
*As antigas fraturas internas da UE pioraram em 2025, à medida que o aumento dos movimentos de extrema-direita em todo o bloco prejudicou a cooperação supranacional sob a governança da UE.
*Atingida por desafios externos e internos, a UE tentou tomar mais iniciativas e buscar parceiros alternativos para encontrar um vislumbre de esperança.
Roma/Bruxelas, 27 dez (Xinhua) -- Sob o brilho das luzes de Natal nas capitais europeias, a Europa entrou na reta final do ano com uma noção mais clara de como 2025 reconfigurou suas realidades. O ano foi marcado pelo aumento das fricções transatlânticas, pelo aprofundamento das divergências políticas entre os Estados-membros da UE e por esforços limitados para diversificar as parcerias para além do bloco, colocando a busca da Europa pela autonomia estratégica sob pressão constante e transformando 2025 em um ano decisivo para o bloco.
AUMENTO DAS TENSÕES TRANSATLÂNTICAS
As fricções entre a UE e os Estados Unidos aumentaram ao longo de 2025 e persistiram até ao final do ano. Na quarta-feira, os Estados Unidos sancionaram indivíduos europeus, o que foi visto por analistas como a mais recente retaliação às multas impostas pela UE a empresas tecnológicas americanas.
Nas negociações comerciais, a UE fez concessões abrangentes, chegando a um acordo que a vice-presidente do Parlamento Europeu, Kathleen Van Brempt, denunciou como "nem justo nem equilibrado".
A ameaça dos EUA de retirar as garantias de segurança impôs pesados encargos à autonomia estratégica da UE. Sob pressão, os membros da aliança militar da OTAN, em sua maioria baseados na Europa, tiveram que concordar em aumentar drasticamente os gastos com defesa na cúpula da OTAN, uma meta que críticos questionaram como irrealista. Simultaneamente, a UE lutava para preencher a lacuna de financiamento para a Ucrânia, enquanto os Estados Unidos reduziam o fornecimento de ajuda militar substancial.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, faz declaração à imprensa sobre as contramedidas da UE às tarifas dos EUA em Estrasburgo, França, em 12 de março de 2025. (União Europeia/Divulgação via Xinhua)
As tensões diplomáticas e de valores atingiram o ápice quando a Estratégia de Segurança Nacional (NSS, na sigla em inglês) dos EUA, divulgada em dezembro, avaliou a UE com uma negatividade sem precedentes, alegando que a Europa enfrentava um "apagamento civilizacional" e uma erosão da "liberdade política e soberania". A NSS dos EUA declarou então que visava "ajudar a Europa a corrigir sua atual trajetória de desenvolvimento", uma afirmação interpretada pelos europeus como uma licença para interferência política.
As negociações para a "compra da Groenlândia" chocaram ainda mais os europeus. A nomeação de um novo enviado especial dos EUA para a Groenlândia provocou uma reação imediata da Dinamarca e da UE, reforçando as preocupações com as fronteiras e a integridade territorial.
Max Bergmann, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank americano, comentou: "É como um divórcio. Os europeus não querem que o casamento termine, mas os Estados Unidos deixaram claro que acabou".
CRESCIMENTO DAS DIVISÕES INTERNAS
As antigas fraturas internas da UE se agravaram em 2025, com a ascensão de movimentos de extrema-direita em todo o bloco prejudicando a cooperação supranacional sob a governança da UE.
França e Alemanha, os pilares tradicionais do bloco, "estão sob imensa pressão da direita e provavelmente já não controlam a maioria política em seus países", observou Zarko Puhovski, analista político croata.
Observadores disseram que a falta de estabilidade interna enfraqueceu sua capacidade de coordenação, levando a um crescente distanciamento entre os dois países. Desde então, surgiram divergências em questões que vão desde o reconhecimento de um Estado palestino até a cooperação com parceiros não pertencentes à UE nos setores digital e militar, além de atrasos no acordo comercial UE-Mercosul.
O jornal inglês Financial Times noticiou que as crescentes divisões entre Paris e Berlim não contribuem para a unidade da UE, já que muitos esperam que as duas potências fundamentais ajudem a transformar a visão do bloco em realidade, como fizeram no passado.
Os Estados-membros permaneceram divididos em relação às principais iniciativas políticas. Quanto ao uso de ativos russos congelados, os Estados bálticos seguiram em frente, enquanto a Bélgica apresentou objeções. Um plano separado para empréstimos conjuntos da UE só avançou após a concessão de isenções à Hungria, Eslováquia e República Tcheca.

Bandeiras da União Europeia em frente ao Edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, Bélgica, em 29 de janeiro de 2025. (Xinhua/Meng Dingbo)
Divergências também foram evidentes nas políticas de defesa e clima. A Espanha se recusou a aumentar os gastos com defesa para 5% do PIB, conforme acordado na cúpula da OTAN. Em relação à transição verde, a Alemanha e a Itália pressionaram para flexibilizar a meta da UE de emissões zero para carros novos até 2035, o que gerou preocupações entre fabricantes e grupos ambientalistas de que esses ajustes enfraqueceriam a credibilidade regulatória e as ambições climáticas do bloco.
Em seu discurso sobre o Estado da União em setembro de 2025, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enfatizou que sua proposta era "uma proposta de unidade", defendendo veementemente a união entre os Estados-membros e entre as instituições da UE.
No entanto, analistas duvidaram disso. A acadêmica búlgara, Stanimira Daneva, observou que a UE enfrenta uma significativa falta de liderança forte, unidade política insuficiente e autonomia de defesa inadequada para funcionar como força independente.
Eberhard Sandschneider, especialista político da Berlin Global Advisors, disse à Xinhua que a unidade europeia é cada vez mais desafiada por divisões internas, particularmente entre Estados-membros que divergem em sua abordagem em relação à presença política dos EUA nos assuntos europeus.
Os três países excluídos do endividamento conjunto da Ucrânia já sinalizaram essa tendência, observou Puhovski. "As divisões dentro da UE não podem ser superadas e, na verdade, irão se aprofundar".
BUSCAR PARCEIROS ALTERNATIVOS
Atingida por desafios externos e internos, a UE tentou tomar mais iniciativas e buscar parceiros alternativos para encontrar um vislumbre de esperança.
Apesar da crescente pressão da estratégia americana de motivação dupla, autoridades da UE defenderam a soberania digital. Investigações e multas contra o Google, a X e a Meta continuam.
A postura dos EUA incomodou a Europa, disse o ex-subsecretário-geral da ONU, Erik Solheim. "Apenas as nações que defendem seus próprios interesses e demonstram autoconfiança serão respeitadas por Washington".

Foto tirada em 23 de maio de 2025 mostra bandeiras da União Europeia na sede da Comissão Europeia em Bruxelas, Bélgica. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
No entanto, o principal obstáculo à busca da UE por autonomia estratégica pode não ser a soberania digital. Segundo Puhovski, a dependência da Europa em relação às capacidades militares e de inteligência dos EUA tem dificultado a concretização de uma verdadeira autonomia estratégica. Ele disse: "A UE precisa de autonomia no próprio cerne do seu poder".
Na quarta cúpula UE-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em novembro, ambos os lados prometeram cooperação em pesquisa, inovação, alianças digitais e transição energética. Observadores consideram a América Latina um mercado-chave para a iniciativa Global Gateway da UE, com expectativas semelhantes em relação à África.
No entanto, quando se trata de necessidades mais urgentes de comércio e investimento, os atrasos no acordo UE-Mercosul, impulsionados por conflitos de interesse entre os agricultores europeus, lançam dúvida sobre essas ambições.
Dan Krause, diretor de programa para Política Europeia e Internacional da Fundação Bundeskanzler-Helmut-Schmidt, um think tank alemão, disse à Xinhua que o "Trump 2.0" está reforçando a necessidade de a Europa depender da cooperação internacional. Mas se a Europa não conseguir garantir estabilidade e crescimento em seu próprio continente, não poderá projetar essas capacidades de forma credível globalmente.
Em 2025, líderes, incluindo o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o rei da Espanha, Felipe VI, visitaram a China. Sánchez disse que o diálogo é sempre melhor do que o confronto em disputas comerciais.
Solheim observou que essas trocas de alto nível sinalizam uma disposição entre a UE e a China para gerir as diferenças por meio do diálogo, sugerindo que relações estáveis entre a UE e a China poderiam trazer maior certeza à geopolítica e ao comércio globais.
(Repórteres de vídeo: Yang Yating, Kang Yi, Ma Zhiyi, Liu Yuxuan e Ma Ruxuan; edição de vídeo: Liang Wanshan, Li Qin, Cao Ying e Hui Peipei)

