Cidade fronteiriça da Turquia está cautelosa com crise de refugiados em Idlib

2020-02-29 14:08:05丨portuguese.xinhuanet.com

Hatay, Turquia, 28 fev (Xinhua) - Enquanto os ataques sírios apoiados pela Rússia estão provocando um êxodo de refugiados na província de Idlib, a última fortaleza rebelde da Síria devastada pela guerra, as autoridades turcas estão preocupadas com a nova crise humanitária que se desenrola em portões fechados do seu país.

"Parece que existem cerca de 1,5 milhão de pessoas próximas às nossas fronteiras. A Turquia atualmente não permite entrada e estamos apoiando essa posição", disse à Xinhua em entrevista, Lutfu Savas, prefeito da província de Hatay, na fronteira com a Síria.

"Achamos que é melhor oferecer a essas pessoas todas as acomodações necessárias do outro lado da fronteira, dentro de uma zona segura que o governo turco queira estabelecer", ressaltou ele, acrescentando que todas as passagens dos lados sírios foram interrompidas pelo menos seis meses atrás.

Hatay é uma das cidades da Turquia que abriga o maior número dos 3,7 milhões de refugiados sírios, causando consequências econômicas e sociais, interrompendo o cenário demográfico da cidade e da região, disse o prefeito.

"Recebemos cerca de 500.000 hóspedes que constituem quase um terço da nossa população", afirmou Savas, observando que, devido as dificuldades financeiras, as despesas com o atendimento aos refugiados criam um fardo muito sério para a província fronteiriça e sua população local.

Hatay é uma província relativamente pequena e, consequentemente, as oportunidades de emprego são menores, e os jovens locais ficam desempregados porque os sírios aceitarão qualquer emprego, principalmente ilegal, e não terão que pagar impostos, apontou Savas, reclamando da concorrência desleal.

O prefeito insistiu, no entanto, que, apesar dos problemas sociais, não houve incidentes "graves" nem violência em Hatay por causa da tolerância multicultural histórica da região, localizada na encruzilhada de muitas civilizações ao longo dos séculos.

O ataque do governo sírio à retomada do território controlado pelos rebeldes criou desde dezembro uma das piores emergências humanitárias da guerra civil de nove anos, em meio a temores de que a Turquia, membro da OTAN, que enviou milhares de tropas para a Síria para interromper a ofensiva, também possa ser envolvida em confrontos.

Quase um milhão de sírios fugiram para a fronteira com a Turquia nos últimos três meses. Muitos estão vivendo em tendas improvisadas ou ao ar livre, com relatos de bebês morrendo devido à temperatura congelante da noite.

O êxodo é o maior de uma guerra que deslocou 13 milhões de pessoas e tirou centenas de milhares de vidas, e está entre as maiores da história atual.

Com cerca de três milhões de habitantes presos entre uma fronteira turca fechada e bombardeios de forças do governo, a crise tem potencial para piorar à medida que o governo luta para recuperar toda a Síria, disseram observadores.

Durante um discurso no parlamento na quarta-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abordou a "grande crise humanitária" na Síria e disse que está fora de questão aceitar mais sírios em meio ao crescente sentimento anti-refugiados na Turquia.

A Turquia tem sido aclamada internacionalmente por sua hospitalidade com os sírios, mas o grande número de sírios espalhados pelo país agora saturado causou tensões sociais e, em alguns lugares, violência entre refugiados e moradores locais.

"Não podemos lidar com mais um milhão, não é possível aceitar silenciosamente essas pessoas em nosso país", disse ele algumas horas antes de uma nova rodada de negociações entre delegações turcas e russas na capital turca Ancara para encontrar uma solução para a crise de Idlib.

Especialistas expressaram pessimismo quanto a encontrar uma solução em breve para o drama humanitário em Idlib, argumentando que isso só seria resolvido no quadro de um diálogo político concertado entre os partidos beligerantes no país, o que parece muito improvável nesta fase.

"Os medos da Turquia são compreensíveis, o novo fardo que surge na Síria certamente não é algo com o qual a Turquia possa lidar por si próprio, o apoio internacional é imperativo", disse à Xinhua, Didem Isci, pesquisador dos Estudos de Migração do Bósforo (BEM).

Esse especialista, em questões de migração sublinhou que, embora não exista um sentimento organizado de anti-refugiados na Turquia, o governo de Ancara está domesticamente sob pressão de crescente hostilidade em relação aos sírios no momento em que o país está se recuperando lentamente de uma recessão.

"Existe uma necessidade absoluta de compartilhamento de ônus da União Europeia, especialmente, mas parece que também há discórdia dentro da União, mas uma parcela justa do ônus é uma obrigação, caso contrário, só podemos esperar o pior", acrescentou Isci.

Frustrado com a falta de resposta internacional, Erdogan ameaçou "abrir as portas" para os refugiados sírios na Europa se a UE não fornecer apoio adicional a eles.

 

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