Duas Sessões: O boom da inovação e as reformas do sistema educativo, uma relação de simbiose

2017-03-28 10:45:56丨portuguese.xinhuanet.com

Por Mauro Marques

Com a chegada das Duas Sessões, a China veio formular as novas diretrizes para manter a orientação do seu crescimento. Se é expectável que o olhar do mundo se tenha focado tendencialmente em indicadores econômicos, importa reter a lucidez de que os últimos estão intrinsecamente conectados com um sem número de outros fatores.

Um destes, que se situa, porventura, na base de uma pirâmide cujo cume é ocupado pelo PIB (e dados afins), é a educação — sendo a sua preponderância, vital na engrenagem da China contemporânea.

O peso da educação na China não é, de forma alguma, uma novidade na história do país. São facilmente identificáveis inúmeros movimentos, instituições, e personalidades, intrinsecamente interligados com a esfera do conhecimento no decurso da história chinesa.

Não esqueçamos que o próprio Confúcio — figura incontornável da cultura sínica, a quem são creditados muitos dos atuais valores basilares da interatividade social da China, bem como o nome do instituto sob a égide do qual a China divulga atualmente as suas língua e cultura no mundo — fora, ele próprio, um educador por excelência.

“Internet+”, “Made in China 2025”, compartilhamento de bicicletas (Mobike, OFO, etc), comércio eletrónico, WeChat… a lista poderia estender-se. Qual é, portanto, o denominador comum de todos estes projetos nos quais a China detém uma posição de vanguarda no mundo? A resposta é: Inovação. Com oito letras do alfabeto se soletra uma palavra de ordem que permeia uma esmagadora quantidade de conteúdos noticiosos, produzidos diariamente no país mais populoso do mundo.

Proporcionalmente equidistante ao elevado número de habitantes, no que concerne ao grau de importância para o país, está a dicotomia da garantia da sustentabilidade e a concretização de uma “sociedade moderadamente próspera”. A estes fundamentos, o governo chinês (especialmente na figura do primeiro-ministro Li Keqiang) responde com um contundente estímulo (firmado nos parâmetros estabelecidos no último plano quinquenal) na busca do espírito da… inovação.

Todo este empreendimento é garantido, de antemão, pela solidez do sistema de educação do país e sua capacidade de desenvolver competências, sendo este complementado com um corpo estudantil ambicioso e diligente. Estes dois parâmetros dão origem à equação capaz de projetar alternativas e soluções para as problemáticas supramencionadas.

Com efeito, das mais singelas empresas a operar no mais remoto dos vilarejos, às multinacionais que sarapintam a paisagem urbana de metrópoles habitadas por milhões — a sociedade chinesa, por intermédio do seu governo, encabeça um movimento de incentivo à compactação de tarefas, simplificação de processos, poupança de recursos, desenvolvimento verde. Esta é, de resto, a única via e o destino óbvio da raça humana que, crescentemente numerosa, se depara com os dilemas da escassez de recursos e da fatiga do meio ambiente.

Correndo o risco de me tornar prolixo, volto, assim, ao ponto de partida.

No seguimento do pano de fundo descrito, as Duas Sessões avançaram com novas medidas que visam, precisamente, continuar a caminhada até aqui trilhada, alargando o leque de novas possibilidades para o futuro.

A atenuação da disparidade de desenvolvimento do sistema de ensino entre as áreas rurais e urbanas foi definida como o desígnio primordial a cumprir até 2020 na agenda educativa.

Para esse fim será realizada a alocação de recursos financeiros, oferecidos incentivos ao corpo docente para se deslocar a áreas mais desfavorecidas, disponibilizados recursos educativos e otimizadas as medidas tomadas até à atualidade.

Este objetivo coaduna-se com um outro projeto ambicioso: alojar em território nacional 16 universidades de nível mundial até 2030 (10 até 2020), espalhadas pelas diversas províncias e regiões, com o intuito de prevenir a centralização nas cidades de primeiro escalão do país.

Ecoando as vozes governamentais, que se opõem ao protecionismo e a movimentos que contrariam o processo natural de globalização, o Ministério da Educação da China divulgou também, por ocasião das Duas Sessões, um comunicado no qual informa que foram quebrados novos recordes no que concerne ao número de estudantes chineses a estudar fora do país e vice-versa.

No contexto asiático, a China é, não só o principal emissor de estudantes, como se tornou também, recentemente, o principal país de destino para prossecução de estudos das restantes nações do continente.

Importa também frisar que a grande maioria dos estudantes que escolhem a China como destino de estudos, proveem de países abrangidos ao longo da extensão geográfica da iniciativa chinesa do “Cinturão e Rota”, sendo-lhes concedidas, em grande parte dos casos, bolsas de estudo para o efeito.

Em conformidade com o que se tem vindo a verificar nos últimos anos, as universidades chinesas deram seguimento à sua progressiva escalada nos rankings mundiais, ocupando, à data, lugares cada vez mais expressivos no panorama internacional e posições cimeiras nas classificações no contexto asiático e dos BRICS.

A China dá, deste modo, um passo em frente rumo à descentralização, equidade, reforço, otimização e internacionalização da educação, procurando agilizar um setor que, embora relativamente resguardado das atenções da comunicação social, tem dado, em grande parte pela via da inovação, um contributo nevrálgico para dar resposta aos inúmeros desafios que o país enfrenta.

* O autor é mestre em Estudos Interculturais pela Universidade do Minho

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