
Foto tirada em 23 de dezembro de 2025 mostra petroleiro ancorado no Lago Maracaibo, no estado de Zulia, Venezuela. (Str/Xinhua)
Críticos compararam a ofensiva contra a Venezuela à guerra do Iraque, citando uma mistura familiar de retórica de mudança de regime e pretextos de segurança, cujo objetivo fundamental é servir aos interesses petrolíferos de Washington.
Beijing, 26 dez (Xinhua) -- Desde o final de agosto, os Estados Unidos intensificaram a presença militar no Caribe, ao largo da costa da Venezuela, juntamente com sanções, bloqueios e ameaças militares crescentes contra a nação sul-americana rica em petróleo.
Em um desenvolvimento notável, a Casa Branca ordenou que as Forças Armadas dos EUA se concentrem quase exclusivamente na aplicação de uma "quarentena" ao petróleo venezuelano por pelo menos os próximos dois meses, informou a agência de notícias britânica Reuters na quarta-feira, citando um funcionário americano.
Quais são os verdadeiros motivos por trás dessas ações? Que resultado Washington realmente quer?
ALEGAÇÕES DE TRÁFICO DE DROGAS
Desde setembro, as Forças Armadas dos EUA lançaram dezenas de ataques contra embarcações no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, que supostamente transportavam drogas.
Os ataques, cuja legalidade tem sido questionada por especialistas e até mesmo por parlamentares americanos de ambos os partidos, mataram mais de 100 pessoas, segundo dados divulgados pelo governo americano.
No entanto, Washington justificou as operações mortais como sua "guerra contra os cartéis de drogas".
Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou um "bloqueio total e irrestrito" de todos os petroleiros sancionados que entram ou saem da Venezuela, e Washington já apreendeu dois petroleiros venezuelanos. Na segunda-feira, Trump disse que o objetivo dos EUA "provavelmente seria" forçar o presidente venezuelano Nicolás Maduro a deixar o poder, e que ele acredita que "seria inteligente" que Maduro renunciasse.

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com repórteres na Casa Branca, em Washington, D.C., Estados Unidos, em 30 de setembro de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)
VERDADEIRO MOTIVO
Críticos, incluindo parlamentares no Capitólio dos EUA, questionaram se o combate ao narcotráfico é realmente o único motivo dos EUA.
Em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, convocada na terça-feira devido à situação na Venezuela, o embaixador venezuelano nas Nações Unidas, Samuel Moncada Acosta, acusou Washington de cometer a "maior extorsão" contra seu país.
O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, disse em uma coletiva de imprensa na semana passada que Trump "disse que somos os ladrões do petróleo que está sob nosso solo. Isso é muito incoerente".
A verdade foi revelada à comunidade internacional, pois ficou claro que a crescente pressão e hostilidade contra a Venezuela são motivadas pela intenção dos EUA de se apropriarem do petróleo venezuelano, acrescentou o funcionário.
Estima-se que a Venezuela possua reservas de cerca de 303 bilhões de barris de petróleo em 2023, as maiores reservas comprovadas de petróleo bruto do mundo, representando aproximadamente 17% das reservas globais, segundo a Administração de Informação Energética dos EUA.
Trump disse na segunda-feira que o petróleo apreendido da Venezuela poderia ser tratado como um ativo dos EUA. "Talvez o vendamos, talvez o guardemos", disse ele a repórteres. "Talvez o usemos nas reservas estratégicas. Também ficaremos com os navios".
As declarações ecoam afirmações anteriores de Trump, nas quais ele repetidamente defendeu que os Estados Unidos se apropriem do petróleo de outros países, indicando uma crença mais ampla de que o poder dos EUA dá a ele o direito de controlar ou extrair recursos de outros Estados, de acordo com uma reportagem publicada na quarta-feira pelo jornal britânico The Guardian.

Pessoas caminham em frente a um mural em Caracas, Venezuela, em 5 de novembro de 2025. (Foto por Marcos Salgado/Xinhua)
"IMPERIALISMO DE RECURSOS"
As reivindicações de Trump sobre o petróleo venezuelano fazem parte de um "imperialismo de recursos" mais amplo, disse um especialista em um artigo de análise publicado no The Guardian.
A política energética global do governo dos EUA "trata-se principalmente de usar a ameaça de violência ou a retenção de ajuda" para garantir os insumos para sua estratégia energética, disse Patrick Bigger, codiretor do Transition Security Project, uma iniciativa de pesquisa focada nas preocupações climáticas e geopolíticas da militarização.
Críticos compararam a ofensiva contra a Venezuela à guerra do Iraque, citando uma mistura familiar de retórica de mudança de regime e pretextos de segurança, cujo objetivo fundamental é servir aos interesses petrolíferos de Washington.
Um artigo de 2023 intitulado "Guerras no Iraque e a economia americana", arquivado no banco de dados EBSCO, um dos principais provedores de serviços de informação dos EUA, dizia: "Desde a Segunda Guerra Mundial, a política externa dos EUA priorizou a obtenção de petróleo no Golfo Pérsico, com o Iraque desempenhando um papel essencial devido às suas importantes reservas de petróleo".
Em 2003, os Estados Unidos lançaram uma invasão militar ao Iraque sob o pretexto de que o país possuía armas de destruição em massa. A guerra deixou milhares de mortos e quase 10 milhões de deslocados.
Após o "conflito", "surgiram oportunidades significativas para os negócios americanos, principalmente por meio de contratos com empresas petrolíferas para explorar os campos de petróleo iraquianos", escreveu o artigo.
Durante sua primeira campanha presidencial, Trump argumentou que, embora os Estados Unidos não devessem ter iniciado a guerra no Iraque, deveriam ter tomado o petróleo iraquiano para compensar os gastos militares americanos.
"Você vence a guerra e fica com o petróleo", disse ele ao canal de televisão americano ABC em 2015. "Você não está roubando nada... Estamos nos reembolsando".

