Beijing, 25 nov (Xinhua) -- "Modernizar-se a partir do Sul Global implica redefinir o próprio conceito de desenvolvimento e fazê-lo por meio da justiça, da equidade, da sustentabilidade social e ambiental e da participação dos cidadãos", afirmou o diretor-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), Pablo Vommaro, em entrevista à Xinhua durante o Fórum sobre Modernização do Sul Global, realizado recentemente em Beijing.
"A China tem muito a contribuir nesse caminho e a colaboração com a América Latina e o Caribe fortalecerá nossas capacidades compartilhadas", acrescentou.
URGÊNCIA DE UMA MODERNIZAÇÃO A PARTIR DO SUL GLOBAL
"Durante décadas, a modernização foi concebida como um caminho único e linear, emulado pelo Norte Global e avaliado exclusivamente por parâmetros como o crescimento do Produto Interno Bruto, a industrialização e o acesso tecnológico", explicou Vommaro.
Ao mesmo tempo, segundo o diretor-executivo, vivemos em um mundo que enfrenta múltiplas crises (climática, econômica, cultural, política, sanitária e de governança global), que evidenciam as limitações do modelo de desenvolvimento ocidental dominante.
"A América Latina e o Caribe, assim como a África e a Ásia, conhecem bem as consequências das modernizações impostas, como desigualdades estruturais, extrativismo, degradação ambiental e fragmentação social", indicou Vommaro, acrescentando que são necessários novos pactos ecossociais que garantam o acesso à terra, à água e à energia para todos.
"Uma modernização a partir do Sul deve ser ecológica e ecossocial, integrando justiça ambiental, direitos da natureza e transições energéticas justas", destacou o diretor-executivo.
Em um campo igualmente crucial, como o tecnológico, Vommaro alertou sobre a não neutralidade dos algoritmos, que replicam os preconceitos, as hierarquias e as desigualdades do mundo que os treina.
"Se não participarmos ativamente da criação dessas tecnologias, seremos reduzidos a meros consumidores da inteligência alheia. O Sul Global tem a responsabilidade e o direito de desenvolver sua própria inteligência artificial (IA) diversificada, ética, adaptada ao contexto e capaz de aprender com nossa linguagem, cultura e realidade", afirmou.
Diante desse panorama, ele enfatizou a urgência de "forjar uma nova arquitetura civilizacional na qual os povos do Sul Global tenham voz, pensamento e poder de decisão, e um novo horizonte civilizacional que seja justo, verde, intercultural e solidário".
"Hoje sabemos que não existe uma única modernidade possível. A modernização a partir do Sul Global não se trata de adaptação, mas de transformação. Não se trata de copiar o Norte, mas de inovar a partir de nossas próprias histórias e realidades. Não se trata de servir a alguns poucos privilegiados, mas de se aplicar a todos os povos, com base na cooperação, na inclusão e no aprendizado recíproco", destacou.
COLABORAÇÃO COM A CHINA NO CONTEXTO DO SUL GLOBAL
"A China nos permite mostrar caminhos alternativos de modernização, nos permite encontrar formas alternativas de cooperar, não de competir, mas de nos beneficiarmos mutuamente", afirmou Vommaro.
"A Iniciativa Cinturão e Rota e a Iniciativa de Governança Global (IGG) propostas pela China", disse o executivo, "oferecem um roteiro valioso para conceber uma modernização que seja justa, sustentável e cooperativa".
A IGG destaca cinco princípios: aderir à igualdade soberana, respeitar o Estado de Direito internacional, praticar o multilateralismo, promover uma abordagem centrada nas pessoas e se concentrar em empreender ações reais. "Estes convergem na busca de um sistema internacional mais equilibrado, plural e solidário que promova a paz, a justiça social e a sustentabilidade ambiental, e respondem diretamente às aspirações históricas da América Latina e do Caribe", afirmou.
Segundo o representante mais alto da CLACSO, a América Latina e o Caribe são terras de imensa biodiversidade, mas também epicentros do extrativismo e da desigualdade. Nesse sentido, a região tem um amplo espaço para cooperar e trabalhar junto com a China no desenvolvimento de infraestrutura verde, tecnologias limpas e estratégias conjuntas contra as mudanças climáticas, bem como para alcançar uma modernização mais justa, igualitária e que gere bem-estar para as pessoas.
"A modernização no século XXI é marcada pela revolução tecnológica. O investimento público da China em inteligência artificial e computação quântica demonstra que o conhecimento pode impulsionar o bem-estar coletivo, não apenas o lucro privado", afirmou Vommaro, acrescentando que isso abre oportunidades para a cooperação científica e tecnológica entre a China e a América Latina e o Caribe, enquadradas em uma visão ética do desenvolvimento que fortalece as capacidades de cada país.
A crise do multilateralismo exige uma profunda renovação da ordem mundial, disse o diretor-executivo, que também mostrou seu apoio ao conceito de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade. "No panorama político mundial atual, é importante defender o multilateralismo, não cair na armadilha de um mundo polarizado, dividido, bipolar ou unilateral, e poder encontrar metas comuns para, posteriormente, trabalhar por meio do multilateralismo. A partir da América Latina e do Caribe, essa comunidade que compartilhamos profundamente será construída com base no conhecimento compartilhado, na cooperação solidária e no respeito mútuo", enfatizou.
"Outras iniciativas como o BRICS, o BRICS Plus e o Fórum China-CELAC também são expressões atuais de esforços conjuntos para promover uma governança global para o futuro", indicou Vommaro.
CONTRIBUIÇÕES DA CLACSO AO SUL GLOBAL COM A CHINA
Nos últimos anos, a CLACSO e instituições de pesquisa e universidades da China realizaram intercâmbios e uma profunda cooperação acadêmica, trabalhando em conjunto para impulsionar o sistema de conhecimento da modernização do Sul Global.
Por exemplo, o CLACSO criou o Centro de Estudos e Intercâmbio entre a América Latina, o Caribe e a China, uma plataforma acadêmica e cultural que promove a co-criação de conhecimento, a transparência e a sustentabilidade. Pesquisadores, professores e estudantes de ambas as regiões participam articulando conhecimentos, práticas e horizontes compartilhados.
Desde 2019, o CLACSO e a Academia Chinesa de Ciências Sociais desenvolveram grupos de trabalho, pesquisas conjuntas, publicações colaborativas e editais de projetos bilaterais sobre temas como redução da pobreza, mudanças climáticas, sustentabilidade ambiental, governança global, migração e direitos humanos.
"A colaboração entre o CLACSO e a Academia Chinesa de Ciências Sociais é um exemplo concreto de cooperação Sul-Sul. Esta parceria não é apenas institucional, mas também civilizacional, e constitui um compromisso com o internacionalismo do conhecimento", afirmou.
Além disso, o diretor-executivo apresentou o novo projeto do CLACSO, "A Iniciativa de Governança Global da Perspectiva da América Latina e do Caribe", que analisa seus impactos e potencial para o Sul Global e contribui com conhecimento situado para uma nova arquitetura de cooperação internacional.
"Nesse sentido, podemos afirmar que a América Latina, o Caribe, a China e o Sul Global formam uma comunidade de futuro compartilhado, forjada por meio da cooperação e da busca de objetivos comuns", concluiu Vommaro.

