Belém, 12 nov (Xinhua) -- A desinformação tornou-se um obstáculo central para ação climática, pois sem integridade da informação é impossível construir políticas públicas. Portanto, proteger a veracidade e a confiança em informações baseadas em evidências é essencial para uma luta eficaz contra as mudanças climáticas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Em entrevista à Xinhua, à margem da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), Guilherme Canela De Souza, diretor da Divisão de Inclusão Digital e Políticas e Transformação Digital da UNESCO, explicou que o conhecimento científico é a base para uma ação climática eficaz, tanto para governos quanto para cidadãos.

"Há evidências científicas incontestáveis de que a mudança climática é um problema, mas, por outro lado, essas evidências científicas estão sendo atacadas por campanhas de desinformação, o que leva à necessidade de desenvolver políticas públicas para lidar com esse problema da desinformação e, portanto, com a falta de integridade informacional", enfatizou.

O especialista explicou que, embora "89% da população mundial acredite que temos um problema climático", isso não se traduz necessariamente em ações concretas, possivelmente porque a desinformação se tornou cada vez mais sofisticada.

"Não se trata apenas de negar a mudança climática; trata-se de uma retórica muito mais sofisticada, como: 'a tecnologia resolverá tudo, você não precisa se preocupar'. Esses são os nós que precisamos desatar com esta iniciativa", afirmou.

A esse respeito, Canela lembrou que, em janeiro passado, os relatórios de risco global do Fórum Econômico de Davos colocaram a desinformação como o principal risco global, inclusive acima da mudança climática, que ficou em segundo lugar.

"Portanto, precisamos deixar bem claro que, em qualquer política pública essencial - como vimos durante a pandemia (do novo coronavírus), se a questão da integridade da informação não for colocada no centro da agenda, não poderemos avançar", afirmou.

Em resposta, a UNESCO, o governo brasileiro e as Nações Unidas (ONU) lançaram a Iniciativa Global sobre Integridade da Informação em Mudanças Climáticas durante a reunião do G20 em novembro de 2024. Essa iniciativa visa investigar, expor e desmantelar a desinformação relacionada às mudanças climáticas e disseminar informações verdadeiras.

De acordo com essa Iniciativa Global, o descrédito das evidências científicas está distorcendo a percepção pública e enfraquecendo as políticas baseadas em dados. Portanto, é necessário desenvolver políticas que protejam a integridade da informação, resguardem aqueles que reportam sobre questões ambientais e promovam ações climáticas globais bem fundamentadas.

"O principal objetivo desta Iniciativa Global é financiar organizações em todo o mundo, especialmente no Sul Global, para produzir evidências sobre o que está acontecendo em relação à desinformação e, assim, gerar políticas mais eficazes para combatê-la", explicou.

O representante da UNESCO esclareceu que, se essas investigações demonstrarem que determinado conteúdo está sendo financiado, por exemplo, pela indústria petrolífera, caberá então ao "indivíduo, ao ouvinte, ao leitor" decidir se essa informação é confiável e imparcial.

"Devo confiar ou não em algo que é financiado por alguém que tem interesse direto nessa agenda?", enfatizou.

Segundo Canela, espera-se que pelo menos 12 países se juntem à iniciativa nos próximos meses, com o objetivo de alcançar, eventualmente, 30 nações em todas as regiões.

"Esperamos que as partes interessadas, que estão com razão preocupadas, especialmente com as mudanças climáticas, compreendam que um dos pilares dessa preocupação deve ser a questão da integridade da informação", concluiu.