Comentário: Para o Pacífico Sul, a China é uma oportunidade, não uma ameaça-Xinhua

Comentário: Para o Pacífico Sul, a China é uma oportunidade, não uma ameaça

2024-08-11 11:31:22丨portuguese.xinhuanet.com

Navio carregado com suprimentos básico parte de porto em Guangzhou, província de Guangdong, no sul da China, para Tonga, no dia 31 de janeiro de 2022. (Foto por Zhou Yancheng/Xinhua)

É por meio de uma experiência direta da Ásia que é possível ter uma visão equilibrada da geopolítica na região e ajudar a desenvolver situações de ganho mútuo. A ascensão da China é uma oportunidade, não uma ameaça.

Por Kalinga Seneviratne

Passei cerca de 18 meses na Universidade do Pacífico Sul em Fiji em 2022 e 2023. Durante esse período, observei que a cobertura da mídia do Pacífico sobre a Ásia era sombria.

Notei que a mídia australiana em particular, assim como alguns de seus think tanks, espalham a mensagem de que a Austrália, a Nova Zelândia e seus aliados ocidentais são os amigos e parceiros tradicionais da região, e querem ajudar o Pacífico.

Essa palestra é enfeitada com retórica de crítica à China, onde o país é retratado como um estrangeiro infiltrado na região para explorar as pessoas e os recursos.

Quando ouço essa retórica, muitas vezes penso, e Papua-Nova Guiné, um dos países mais ricos em minerais do mundo, cujo esse tipo de recursos tem sido explorado por empresas de mineração australianas e ocidentais por mais de meio século, e o que os papua-nova-guineenses receberam em troca? Eles continuam sendo cidadãos de um dos países mais pobres do mundo.

Ainda lembro da primeira reportagem internacional que fiz no início dos anos 1990. Era sobre como a Associação Americana de Pesca de Atum estava roubando os recursos pesqueiros do Pacífico Sul sem pagar taxas de licenciamento para os países das ilhas do Pacífico porque os americanos não reconhecem a Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre o Direito do Mar.

Eles continuam fazendo isso, enquanto palestram sobre proteger uma "ordem baseada em regras" no Pacífico.

 

ORDEM BASEADA EM REGRAS: ORDEM DE QUEM?

Um mantra popular dos americanos e seus aliados hoje é que eles estão protegendo uma "ordem baseada em regras" que está sob ameaça da ascensão da China e sua parceria com a Rússia. No entanto, há muita hipocrisia nisso em vez de realidade fora do bloco ocidental.

Os Estados Unidos e seus aliados europeus têm imposto sanções unilaterais e violado a lei internacional à vontade, o mais recente sendo esforços para tomar cerca de 300 bilhões de dólares americanos de dinheiro russo mantido em bancos ocidentais para ajudar a pagar pelas armas fornecidas à Ucrânia.

As regras sobre as quais eles estão falando são as que eles mesmos estabeleceram, para fraudar a ordem econômica e política internacional, para ajudar a si mesmos. Agora, a maioria das nações do mundo, conhecidas como "Sul Global", estão desafiando essas regras.

O problema é que o Ocidente só sabe palestrar para os outros; ele não sabe ouvir e respeitar outros pontos de vista.

 

ARMADILHAS DA DÍVIDA: ARMADILHAS DE QUEM?

Desde que o Ocidente estabeleceu as chamadas instituições de Bretton Woods: o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Ocidente definiu os termos dos empréstimos internacionais para o chamado Terceiro Mundo, suas antigas colônias.

Por meio século, o Ocidente usou essas dívidas, que eles chamam de "ajuda", empregando o FMI para impor políticas de ajuste estrutural que dita políticas econômicas e externas para países pobres.

Na virada do século, quando uma China em ascensão começou a emprestar dinheiro para países em desenvolvimento, especialmente para construir infraestrutura como estradas, portos e ferrovias que são projetadas para conectar cidades internamente e entre regiões, o Ocidente ficou alarmado. Ele não controlava mais a agenda de desenvolvimento global que o favorecia, especialmente depois que a China criou a Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) em 2013.

A Austrália também percebeu isso. Em 2015, o governo do Território do Norte concedeu um arrendamento de 99 anos sobre o Porto de Darwin no norte da Austrália para o Landbridge Group da China. Após uma revisão de segurança, pouco antes do primeiro-ministro Anthony Albanese visitar a China em novembro de 2023, o governo australiano anunciou em seu site que o acordo poderia ser concretizado. Darwin está programado para ser o elo da Austrália com a ICR e com a Ásia.

Foto tirada no dia 9 de junho de 2021 mostra Porto de Darwin no Território do Norte (TN), Austrália. (Porto Landbridge Darwin/Divulgação via Xinhua)

Os países do Pacífico Sul estão à sua margem e, para se beneficiar dela, o Pacífico precisa se conectar com a região por meio de conectividade, exposição na mídia, interações culturais e ideias intelectuais.

Em junho, o primeiro-ministro chinês Li Qiang visitou a Nova Zelândia e a Austrália. Na Nova Zelândia, os líderes dos dois países discutiram o aprimoramento da parceria por meio da melhoria do comércio de serviços e bens, além de trocas intelectuais. O mesmo foi acordado na Austrália entre os dois países.

Enquanto a Austrália e a Nova Zelândia tentam se beneficiar da ascensão econômica da China, a considerando uma "parceria estratégica abrangente", seus líderes e think tanks vêm ao Pacífico para alertar a região sobre as "armadilhas da dívida" e ameaças à segurança chinesas.

 

CONEXÃO DO PACÍFICO E DA ÁSIA

Em um comentário recente no China Daily, o professor de ciência política chinês, Li Wei, argumentou que a competição China-EUA está definida para ser uma batalha tridimensional de longo prazo, com diplomacia, fluxos de capital e inovações tecnológicas desempenhando papéis essenciais.

Em termos de diplomacia, ele ressalta que o sistema dos EUA é baseado em seu sistema de aliança militar, "que é relativamente exclusivo e rígido". Em contraste, a diplomacia da China é fundada em uma rede global de parcerias que se concentram na cooperação, "que é mais aberta e flexível".

Os líderes e formuladores de políticas das ilhas do Pacífico precisam entender isso. Quando a China constrói um porto no Pacífico, ele precisa ser visto em termos de ligação com a ICR, e a ajuda da China à região precisa ser vista em termos de construção de parcerias.

Em 2023, fiz uma matéria para o South China Morning Post sobre como especialistas agrícolas chineses estão treinando agricultores fijianos no cultivo de arroz. Não há empréstimos e é um projeto de ajuda para construir parcerias entre os setores agrícolas chinês e fijiano, introduzindo o conhecimento asiático.

Especialista chinês Wu Mingkui (1º à esquerda) mede rendimento da safra em campo de demonstração do Projeto de Desenvolvimento Agrícola da Assistência da China no plantio de arroz em Nausori, Fiji, no dia 13 de março de 2024. (Foto por Sang Qinlong/Xinhua)

Quando a China se oferece para construir um porto de pesca em Daru, Papua-Nova Guiné, ao lado de uma fábrica de processamento de peixes construída pela China para exportar produtos de frutos do mar para o território chinês, ela está novamente construindo parcerias entre o setor pesqueiro do Pacífico e o mercado chinês. Mas, quando isso foi anunciado em 2021, a mídia australiana ficou em pé de guerra, vendo isso como a construção de uma base naval a 200 km de suas costas.

A China construiu uma ferrovia de 414 km de extensão no Laos, uma antiga colônia francesa. Passei por essa ferrovia em maio deste ano e é um feito tecnológico impressionante em terreno montanhoso acidentado.

É por meio de uma experiência direta da Ásia que é possível ter uma visão equilibrada da geopolítica na região e ajudar a desenvolver situações de ganho mútuo.

Em todo o Sudeste Asiático, os chineses estão construindo ferrovias que abririam um enorme mercado para bens, serviços e turismo que poderia ser maior do que o mercado da União Europeia nos próximos anos.

A ascensão da China é uma oportunidade, não uma ameaça.

 

Nota da edição: Kalinga Seneviratne é pesquisadora na Universidade Shinawatra em Bancoc e consultora do programa de jornalismo na Universidade do Pacífico Sul em Fiji.

As opiniões expressas neste artigo são da autoria e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.

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